quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

MUSICALIDADE E LEITURA MUSICAL




Em março, estarei ministrando um workshop de leitura musical no Espaço da queridíssima Sahira Fatin. Ela me propôs o tema: leitura musical. Eu adoro este estudo, que, nada mais é do que apurar, primeiramente, a nossa musicalidade. Passada a empolgação inicial, me deparei com a questão: como trabalhar este tema em 2horas de aula? Trabalho este tema com minhas alunas, aqui no Espaço Manatt, de forma gradativa, através das seqüências, improvisos e coreografias e vi o meu trabalho neste workshop será bem mais desafiador. Segue minhas reflexões e um pouco de teoria também. Nada é definitivo, pois isso se chama Arte.

Por onde começar

Penso em pequenos roteiros para discussão e prática, algo que auxilie as alunas no estudo aprofundado de sua música, não apenas o que vemos muito: a aluna escolhe a música, coreografa e pronto. Muitas vezes, esse trabalho quase “automático” acaba prejudicando a bailarina, no que concerne à sua maturidade musical e interpretativa, limitando-a. Quando treinamos nossa leitura musical, treinamos nossa sensibilidade e, por que não dizer, nos preparamos para dançar improvisos também. Nesse estudo, nos permitimos também o auto-conhecimento enquanto bailarina, quando descobrimos os instrumentos que preferimos, qual nos facilita quase automaticamente, nossa interpretação.

Depois de escolher a música existem vários itens para se levar em consideração:

Sobre a música:

Estilo: Clássica, folclórica, pop, percussão, etc. Identificar se surgem estilos diferentes na mesma música – o que acontece muito nas clássicas - onde podemos ter said, taksim, percussão, etc. Todos na mesma música, o que podemos dizer que é o grande “desafio” da bailarina, onde é colocado à prova seu conhecimento.

Definição do ritmo e melodia: decifrar os momentos onde cada um fala mais alto: ritmo, melodia ou voz.

Definição dos instrumentos: saber definir quando é um alaúde, um violino, um kanooum, piano, acordeom... e saber que o som de um derback é diferente de um som de daff, por exemplo.

Métrica: leitura das frases e refrões – saber o que a história a música está contando, em quais momentos. Identificar se existem ritmos diferentes que aparecem na música (malfuf, said, e outros.)

Humor da música: se ela é o tempo todo alegre, se tem variações para algo mais triste ou introspectivo, etc.

Sobre o repertório de movimentos que pode ser usado


Qual a minha postura em determinado estilo?
Um shimmie de um taksim é totalmente diferente do shimmie em um said, por exemplo; ou seja, qual o tamanho dos movimentos? Isso é determinado pelo estilo.

O que pede cada instrumento que está solando?
Devemos diferenciar os movimentos que usamos para um violino ou um kanooum. Ou seja, identificar o som de cada instrumento, no sentido de empregar o movimento de forma mais correta de acordo com o que está tocando. É quando identificamos sons mais “longos”, “curtos” e “quebrados”. E, colocando o instrumento no contexto da música, ou seja, quando a frase faz parte apenas do desenvolvimento da música ou é no momento de “crescimento” da mesma.

Quais movimentos usar?
Temos toda uma gama para utilizar, sejam eles cadenciados, sinuosos, secos, reverberados e de deslocamento (também com subdivisões entre si). Sem esquecer, é claro, dos movimentos de braços, tronco e cabeça, muitas vezes esquecidos.

Lembrando que, eu sempre digo que um grande equívoco em nosso meio é achar que a bailarina que não lê o que “queremos que ela leia” em termos de musicalidade, significa que ela está errada. Verifico muitos casos de bailarinas que ouvem mais a percussão, outras mais a melodia, etc. Eu só acho que uma leitura “errada” seria uma leitura “pobre”, sem variações, sem identificar os ritmos que surgem na música e, pior ainda, fora da cadência solicitada pela música.

Finalizando...

Vou trabalhar estes temas com vários exercícios de identificação do som dos principais instrumentos árabes, quais movimentos mais adequados e, claro, discutindo com as alunas suas dúvidas e preferências. Como diz o mineiro: “é assunto pra mais de metro”.

Mas, enfim, amo muito tudo isso! Colaborar cada vez mais com o estudo, a reflexão e a busca pela identidade pessoal de cada aluna que passa por mim. Aprendendo e ensinando, ensinando e aprendendo...

Um comentário:

  1. Oii Rhazi!
    Tudo bem?

    Adorei o tema do work, muito interessante. Afinal, com uma boa leitura musical tudo fica mais fácil, né?

    E a Sahira é demaaais, nunca vou esquecer aquele work que ela deu sobre expressão no palco, ela é divina!

    Beeeijos!

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